Tendo como norte a obra ensaística de GILDA ROCHA DE MELLO E SOUZA, o SESC ARARAQUARA apresentou uma reflexão sobre a arte e a estética brasileira realizando encontros com intelectuais brasileiros diretamente formados por Gilda e a apresentação de algumas das obras por ela analisadas. O evento contou com a presença de Antônio Cândido, marido de Gilda.
Durante a série, foram realizados encontros com alguns dos principais intelectuais brasileiros que discorreram sobre a formação de Gilda, a influência do primo Mário de Andrade, seu percurso acadêmico, além de suas várias expressões nas áreas de teatro, literatura, cinema, música e artes plásticas. Entre os participantes estiveram José Miguel Wisnik, Walnice Nogueira Galvão, Ismail Xavier, Heloísa Pontes, Otília Arantes, Jorge Coli, Leon Kossovitch, Roberto Schwarz, Nelson Aguilar, Vera d’Horta e Vilma Áreas.
O vídeo “Exercícios do Olhar – Pequena biografia de Gilda de Mello e Souza”, com direção de Angélica Nery, montagem de Raimo Benedetti, produção de Cecília Lucchesi e pesquisa de Renata Scovino, foi preparado especialmente para o evento e exibido durante toda a programação e trata-se de uma colagem de 10 minutos de passagens de sua vida, de sua relação com a família, além de enxertos de ensaios das obras que analisou.
Partindo do texto mais importante de Gilda de Mello e Souza para a compreensão do teatro brasileiro, foi apresentado o espetáculo “A Moratória”, de Jorge Andrade, com direção de Eduardo Tolentino e, no elenco, José Carlos Machado, Déborah Scavone, Rodolfo de Freitas, Augusto Zacchi, Larissa Prado e Rosa Grobman.
Também foi abordada a influência de Mário de Andrade como narrador de histórias infantis na intervenção “Gilda Criança”, com o grupo Caixa de Imagens, além da realização de um “Sarau Clima” pelo Teatro dos Narradores, trazendo à cena o ambiente no qual foi publicada a revista Clima, um verdadeiro marco na vida intelectual brasileira, contendo artigos de filosofia, arte e literatura, no período de1941 a 1944.
Em literatura, o projeto promoveu a leitura do conto “A Visita”, último escrito por ela e publicado em 1958, com a participação de Paula Picarelli, Vilma Áreas e projeções em vídeo realizadas por Fernanda Fraiha. Também foram analisados textos da escritora com relação à literatura da época e sua ligação com as “artes do inacabado” (principalmente o desenho).
No cinema, foram exibidas obras cinematográficas tratadas em ângulos inusitados e reflexivos em seus ensaios, como “Violência e Paixão”, de Lucchino Visconti, “Terra em Transe”, de Glauber Rocha (exibido em 35mm), e a Trilogia da Incomunicabilidade (“A Aventura”, “A Noite” e “O Eclipse”), de Michelangelo Antonioni.
No concerto “O Espírito das Roupas”, realizado a partir dos textos de Gilda em sua obra mais famosa, foram executadas peças de autores brasileiros do séc XIX, com textos de poetas do período, como Francisco Manuel da Silva, Rafael Coelho Machado, Gonçalves Dias, Castro Alves, entre outros. Concepção e canto de Anna Maria Kieffer (meio-soprano), acompanhada por Alessandro GreccHo (tenor) e Leonardo Fernandes (piano), Antônio Carlos Abdalla (pesquisa iconográfica) e Silvia Amstalden (multivisão).
Contemplando as artes plásticas, a exposição “Cerâmicas” trouxe uma coletânea de várias fases do trabalho e de técnicas utilizadas pela ceramista Sara Carone. Em seu ensaio “Feminina, táctil, musical”, de 1994, Gilda comentou sobre o trabalho de Carone e pontuou a delicadeza e harmonia das peças criadas por ela. Também foram realizadas oficinas desta modalidade.
GILDA ROCHA DE MELLO E SOUZA
Criada em Araraquara, onde seus pais eram proprietários da fazenda Santa Isabel, partiu com 12 anos para São Paulo, onde deu continuidade e polimento aos seus estudos. Dois fatos formaram decisivamente a personalidade da ensaísta: a convivência com o primo Mário de Andrade – com quem morou até seu casamento com o crítico literário Antonio Candido – e as aulas dos franceses Roger Bastide, Lévi-Strauss e Mangüé na academia. É no ambiente estudantil que Gilda passou a ser integrante do círculo de juventude do qual faziam parte Décio de Almeida Prado, Antonio Candido, Paulo Emílio Salles Gomes, Ruy Coelho, Lourival Gomes Machado e outros. Juntos fundaram a Revista Clima, um marco da vida intelectual brasileira no período. Gilda dobrou seu olhar atencioso a todas as manifestações artísticas. Tanto em “Exercícios de Leitura” (1980) como em “A Idéia e o Figurado” (2005) reuniu escritos esparsos sobre estética, literatura, teatro, cinema e artes. Mas foi com sua tese polêmica “O Espírito das Roupas – A Moda no Século XIX” (1953) que Gilda tornou-se mais conhecida, onde a ensaísta estuda a função social e psicológica da moda na sociedade moderna.
O evento aconteceu no ano de 2007 com a assessoria de imprensa da Marra Comunicação.
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