O tradicional e o moderno se encontram e chegam à harmonia: a música eletroacústica cai na folia dos pífanos nordestinos

O próximo encontro programado pelo Rumos Musicais leva à Sala Azul do ITAÚ CULTURAL, no dia 27 de julho, terça-feira, às 18h30, os instrumentos do Pife Muderno em sintonia com a música eletroacústica do compositor Sergio Kafegian. Idealizado a partir do desejo de confrontar dois universos aparentemente distintos, o espetáculo apresenta uma das propostas mais instigantes do cenário atual da música instrumental brasileira. Partindo do trabalho do compositor, arranjador e multiinstrumentista Carlos Malta com seu grupo, Pife Muderno, Kafejian realiza diversas intervenções eletroacústicas, que dialogam com o repertório do grupo, alternando ou fundindo os sons.

O grupo, formado por Carlos Malta (arranjos, flautas, pifes, flautim e sax soprano), Andréa Ernest Dias (flautas, flautim e pifes), Marcos Suzano (pandeiro), Oscar Bolão (caixa e pratos) e Durval Pereira (zabumba), apresenta um repertório de música tradicional brasileira e composições próprias: Ponteio (Edu Lobo e Capinam), Assum Preto, Asa Branca (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira), Arrasta pé, Alagoana (Hermeto Pascoal), Nítido e Obscuro (Guinga), O Canto da Ema (João do Vale), Pipoca Moderna (Caetano Veloso e Sebastião Biano) e Tupyzinho, Lá no Suzano e Carááá…caíí (Carlos Malta).

Para criar essas intervenções, Kafejian emprega os materiais escolhidos nas sessões de improvisos de Malta com seus numerosos instrumentos de sopro: flautas, pifes, saxofones, flautas orientais e os sons gravados com o próprio grupo. Depois, em estúdio, transforma esse material. Malta e Kafejian desenvolveram um espetáculo em que a confrontação dos dois universos torna-se uma viagem entre as amplas possibilidades que a sincrética música brasileira pode oferecer.

O SOM DOS PIFES

Segundo Carlos Malta, pife, pífano, pifre ou pífaro, um legado de tribos indígenas, é o mais brasileiro dos instrumentos de sopro. O pife pode ser uma flauta de bambu ou metal, reta ou transversal, sem chaves, geralmente com seis orifícios. São bastante comuns no Norte e Nordeste e costumam alegrar os festejos do sertão, popularmente chamados de Esquenta Mulher.

A MÚSICA ELETROACÚSTICA

Criada no final dos anos 40, a música eletroacústica, embora pouco conhecida no Brasil, é atualmente desenvolvida em centros de pesquisa e de produção na Europa e nos Estados Unidos. Consiste de composições que se utilizam de material pré-gravado (samplers) ou sintetizados, difundidos por alto-falantes dispostos em torno do público.

Uma modalidade de música eletroacústica mescla os sons pré-gravados com execução de instrumentos ao vivo. Neste espetáculo, não só o Pife Muderno estará em cena, como todo o material que será difundido nos altos-falantes foi extraído dos próprios instrumentos do grupo, que, apesar de transformados, não perdem a unidade sonora com o som ao vivo.

CARLOS MALTA E O PIFE MUDERNO

Carlos Malta, compositor, arranjador e multiinstrumentista virtuoso, capaz de transitar entre os floreios de um esquentado frevo e as experiências mais radicais da música instrumental, é considerado pela crítica um dos maiores músicos brasileiros. Liderado por ele, o Pife Muderno consegue ser regional e ao mesmo tempo de vanguarda. Sua formação em nada difere dos tradicionais grupos de pífanos do Nordeste, mas os arranjos e as concepções formais e melódicas revelam um conjunto de extrema atualidade, preocupado com a renovação da linguagem da música instrumental brasileira.

SERGIO KAFEJIAN

Compositor de música contemporânea, elaborando peças para as mais diversas formações, de grupos de câmara a grandes conjuntos orquestrais, tem se destacado na área da música eletrônica. Foi premiado em 1992 no II Concurso Nascente e em 1998 no Concurso Internacional de Música Eletroacústica de Bourges na França. Trabalha no Studio Panorama, um dos centros mais importantes de produção de música de vanguarda do Brasil. Em setembro, participará como compositor convidado nos estúdios do Instituto Internacional de Música Eletroacústica de Bourges.

RUMOS MUSICAIS 1999

Criado para valorizar a produção musical em diversos aspectos, o projeto RUMOS MUSICAIS do ITAÚ CULTURAL, que desde 1997 divulga compositores e intérpretes de diversas vertentes da música brasileira, este ano pretende funcionar também como estímulo criativo para o meio musical. Esta iniciativa tem sido viabilizada por meio de quatro ações básicas: encomenda de obras e de primeiras audições, encontro de grupos ou artistas de diferentes universos musicais, encontro da música com outras linguagens e a apresentação de grupos que tenham um trabalho extremamente original e importante. Além disso, RUMOS MUSICAIS prevê o lançamento de dois CDs, com os artistas convidados que participaram do projeto em 1997 e 1998, e a gravação de um programa que será veiculado pela TV Cultura e pelo site da MTV. RUMOS MUSICAIS é uma realização do Núcleo de Música do ITAÚ CULTURAL.

Rumos Musicais, com Pife Muderno e Sergio Kafegian , aconteceu no ano de 1999, com a assessoria de imprensa da Marra Comunicação para o Itaú Cultural.