Documentário investiga os laços do pintor com a dança: as parcerias com os Ballets Russes, o casamento com uma bailarina e seus reflexos na obra do artista
Mais do que introduzir o cubismo no balé, criando cenários e figurinos, o pintor Pablo Picasso viveu um verdadeiro caso de amor com a dança, cujos fundamentos podem ser vistos no filme Picasso et la Danse ( França, VHS, 82 min, 1994), em exibição pelo CICLO DE VIDEODANÇA ITAÚ CULTURAL – MOSTRA CINEMATECA DE PARIS, dia 12 de setembro (domingo), às 17h, no ITAÚ CULTURAL em São Paulo, e dia 15 (quarta-feira), às 19h30, no Auditório Brasílio Itiberê, em Curitiba.
O quadro surrealista mais célebre de Picasso, La Danse (1925), anuncia a violência que levaria à degradação de seu casamento com a bailarina russa Olga Koklova. Este trabalho é uma das expressões de um relacionamento que havia começado muitos anos antes, em 1917, quando ele e um de seus parceiros, o poeta-dramaturgo-pintor-ator e cineasta Jean Cocteau, foram a Roma para juntar-se ao Ballet Russes, grupo do produtor cultural russo Sergei Diaghilev.
Picasso fez a cenografia do balé Parade, que causou um grande escândalo em sua estréia, justamente por causa do figurino cubista criado pelo gênio da pintura. Nessa ocasião, conheceu a bailarina Olga Koklova, com quem se casou no ano seguinte. Sua colaboração com Diaghilev rendeu ainda cenário e figurino para Le Tricorne e a tela de fundo de Le Train Bleu. Para ele, os anos 20 foram um período de rica exploração artística e muita criatividade, no qual fez várias incursões pelo gênero, criando obras tanto para balés, quanto para peças teatrais.
O documentário de Yvon Gerault mostra a presença da obra do pintor na dança, por meio dos balés Le Tricorne e Le Train Bleu, e a influência da dança na vida e obra do pintor com o filme de Didier Baussy-Oulianoff: Histoire d’un Mariage, intercalados por depoimentos e comentários.
Os balés
Le Tricorne
Com coreografia de Leonid Massine, o balé de um ato estreou em Londres, em 1919, com os Ballets Russes. O enredo de Pedro Alarcón, baseado no libreto de Martínez Sierra, fala sobre a história do dono de um moinho, sua bonita esposa e o jogo de sedução com um oficial. A coreografia é inspirada nas danças que Massine havia visto na Espanha, a música é de Manuel de Falla e os cenários e figurinos são de Picasso.
Le Train Bleu
A estréia do balé criado por Bronislava Nijinska para os Ballets Russes foi em 1924, no Théatre des Champs Elysées. A música foi composta por Darius Milhaud, os figurinos foram criados por Coco Chanel, a tela de fundo foi pintada por Pablo Picasso e o enredo escrito por Jean Cocteau. O Train Bleu – ou o Trem Azul – era o meio de transporte em moda na época para o sul da França. O balé se passa em uma praia da Riviera Francesa e o enredo se baseia em jogos de praia, natação, tênis e movimentos de golfe, aproveitando as habilidades acrobáticas do bailarino Anton Dolin, que estrelou a obra na estréia.
Os coreógrafos
Leonide Massine (1896-1979), bailarino e coreógrafo nascido em Moscou, dedicou-se à dança e à pantomima. Começou sua carreira nos Ballets Russes, ao lado do produtor e agitador cultural Sergei Diaghilev. Em 1916, ganhou os palcos americanos e, cinco anos mais tarde, deixou Diaghilev para viajar pela América do Sul com sua própria companhia. Durante os anos 30, Massine criou um novo gênero da dança, chamado balé sinfônico.
Bronislava Nijinska (1891-1972), irmã do gênio Vaslav Nijinsky, estudou no Balé Imperial de São Petersburgo e integrou o corpo do Teatro Maryinsky até entrar para os Ballets Russes. Embora tenha deixado a companhia durante a Primeira Guerra para dar aulas, retornou em 1921 como coreógrafa. Até hoje, seus balés Les Noces (1923) e Les Biches (1924) são freqüentemente montados.
O CICLO DE VIDEODANÇA
Concebido e curado pela jornalista e crítica de dança Ana Francisca Ponzio, o CICLO DE VIDEODANÇA integra a programação do Núcleo de Artes Cênicas do ITAÚ CULTURAL. A Mostra Cinemateca de Paris, que conta com o apoio cultural do Consulado Geral da França em São Paulo, exibe obras do acervo da Cinémathèque de la Danse de Paris, uma instituição criada em 1982 pelo Ministério da Cultura francês como parte da Cinémathèque Française, fundada, por sua vez, em 1936. Com um dos maiores acervos do mundo, a Cinémathèque de la Danse organiza programas culturais que divulgam as transformações da dança ao longo do século XX.
Com o objetivo da mostra de abrir um canal de acesso permanente à história da dança e às manifestações contemporâneas, a partir de acervos prestigiados internacionalmente, a curadora Ana Francisca Ponzio selecionou os vídeos pensando em fazer do ato de ver dança um hábito tão cotidiano como ir ao cinema. A localização do Itaú Cultural, em plena avenida Paulista, um ponto de fácil acesso e inserido no circuito cultural da cidade, é mais um ponto a favor do sucesso dessa iniciativa. O ITAÚ CULTURAL realiza as sessões aos domingos, às 17h, em São Paulo, e cede os vídeos à Secretaria do Estadual da Cultura do Paraná para outra exibição. Em Curitiba, os filmes são apresentados às quartas-feiras às 19h30 no Auditório Brasílio Itiberê.
PROGRAMAÇÃO
Exibições aos domingos em São Paulo e nas quartas-feiras seguintes em Curitiba
12 de setembro: Picasso et la Danse
19 de setembro: Heretic, a Dancer’s World e Night Journey, de Marta Graham
26 de setembro: Paris Danse Diaghilev
3 de outubro: Roland Petit, de Zizi Jeanmaire
CICLO DE VIDEODANÇA ITAÚ CULTURAL – Mostra Cinemateca de Paris
Exibição de Picasso et la Danse (VHS, 82 min, 1994)
Realização: Yvon Gerault
O Ciclo de Videodança foi realizado no ano de 1999, com a assessoria de imprensa da Marra Comunicação para o Itaú Cultural.