Em 1822 o Brasil alcançou sua independência e passou a ser Império, ato que influenciou a criação de novos símbolos culturais no país. Um século depois, um grupo de jovens artistas e intelectuais promoviam em São Paulo a Semana de Arte Moderna, movimento que abriu caminho para um novo momento na arte brasileira e que marcou o início do modernismo nacional. 100 anos mais tarde, o Farol Santander SP reverencia a história e a contemporaneidade ao realizar a grandiosa exposição Identidades – 22&22&22. Aberto ao público a partir do dia 22/02/2022, a mostra será apresentada em três andares e no hall de entrada do icônico centro de cultura, lazer, empreendedorismo e gastronomia.
Com obras emblemáticas do Acervo Artístico-cultural dos Palácios do Governo do Estado de São Paulo e da Coleção Santander Brasil, mais de 140 trabalhos serão exibidos em um total de 867m² de área expositiva. Sob curadoria de Ana Cristina Carvalho e Carlos Augusto Faggin, e concepção de projeto visual e arquitetônico de Fernando Brandão, a mostra apresenta um recorte sobre três séculos de produções artísticas no Brasil, com trabalhos de artistas fundamentais para a criação e desenvolvimento da identidade cultural do País.
“O Farol Santander orgulhosamente apresenta Identidades – 1822, 1922, 2022 – uma reflexão sobre a nossa identidade a partir da arte e de sua interface com outros campos de conhecimento. Queremos homenagear todos os participantes dos importantes movimentos que transformaram a história do Brasil, reafirmando seu compromisso com o resgate da memória, o despertar da criatividade e o fomento da cultura.”; afirma Patricia Audi, vice-presidente do Santander Brasil.
Entre os grandes destaques, está o imponente mural Tiradentes (1948-1949), considerado uma das principais obras de Cândido Portinari, que será pela primeira vez exibido fora do Memorial da América Latina. A obra de grandes dimensões (309×1767 cm) será instalada no hall do Farol Santander SP.
Tarsila do Amaral, uma das maiores artistas brasileiras, terá sete obras exibidas, entre elas, Autorretrato I (1924); e A Samaritana (1911). Outras figuras fundamentais como Anita Malfatti e Alfredo Volpi também terão diversos trabalhos expostos na mostra.
“Essa exposição apresenta um grande desafio, que é abordar os contextos social, cultural, econômico e político, nos períodos e ambientes em que viveram – e vivem os autores, procurando revelar fatos e mitos da historiografia brasileira em três séculos de transformação, da tradição à modernidade. A nossa proposta de interpretação da arte aqui selecionada, é ver a pintura, o desenho, a gravura e a escultura, como algo que revela abertamente não só processo de trabalho do artista, mas também as bases sobre as quais a história de duas celebrações fundamentais para a construção “das identidades” no Brasil se apoiam.”; explicam os curadores Ana Cristina Carvalho e Carlos Augusto Faggin.
Outra instalação em evidência é o Fragmento de Forro de Igreja (século XIX). Originalmente parte do teto de uma capela, o fragmento foi adquirido pelo Governo do Estado para o Palácio dos Bandeirantes, em 1968.
A arte ajuda a compreender o olhar da sociedade sobre a situação cotidiana do momento: toda produção artística absorve o contexto social e político em que está inserida. Se há dois séculos o Brasil dava seus primeiros passos como nação independente, esta nova conjuntura trouxe repercussões também para o mundo da arte brasileira.
100 anos mais tarde, um evento marcava a história da cidade de São Paulo e da cultura nacional: a Semana de Arte Moderna, também conhecida como Semana de 22, celebrada no Theatro Municipal. O movimento está inserido em um contexto político e social conturbado, em um período de crise da República Velha e decadência da política do café com leite, onde São Paulo e Minas Gerais se alternavam no poder.
“Sou um entusiasta da cultura e é um grande privilégio poder participar do processo de criação desta exposição. Apesar de sermos jovens politicamente, em apenas 200 anos construímos muitas identidades por meio do olhar sensível de nossos emblemáticos artistas, representados em mais de 140 trabalhos, que fazem história no Brasil.”; reforça Fernando Brandão, responsável pelo projeto visual e arquitetônico da mostra.
A exposição:
A mostra Identidades – 22&22&22 é dividida por temas e períodos em três andares, além do hall de Entrada do edifício. A disposição das obras não está colocada em ordem cronológica, mas sim, de maneira que se encaixe dentro da temática representada por cada século. Por exemplo, um busto de D. Pedro I, de autor desconhecido, produzido nos anos 1970, será exibido no andar que remete ao século XIX.
Como já destacado anteriormente, o mural Tiradentes (1948-1949), de Portinari, abre alas para a exposição ao ser a única obra exibida logo na entrada do Farol Santander São Paulo.
O mural foi originalmente encomendado pelo escritor e industrial Francisco Inácio Peixoto, durante seu processo para colocar a cidade de Cataguazes (MG) dentro dos ideais modernistas da época. De tão magnifica, a obra que retrata a luta de Tiradentes, foi exposta no MAM do Rio de Janeiro, antes de seguir para Cataguazes, em 1949.
Já na década de 1970, o Palácio do Governo do Estado de SP adquiriu o painel e, anos depois, com a criação do Memorial da América Latina, a obra foi cedida ao espaço para ocupar o Salão de Atos, que carrega o nome do inconfidente mineiro.
24º andar – Séc. XIX
No 24º andar, correspondente ao Século XIX e a Independência do Brasil, o publico encontrará representações tecnológicas e interativas de figuras históricas e personagens importantes para o período.
Entre os destaques artísticos, estão as litogravuras de Johann Moritz Rugendas e Jean-Baptiste Debret. Artistas europeus de escola neoclássica, que chegam ao Brasil e se inspiram nas paisagens, costumes e personagens locais da ainda então Colônia de Portugal.
Destaca-se ainda uma coleção de peças, louças, lustres e mobiliários da época, principalmente em materiais como porcelana, madeira e cristal, que estarão expostos ao público. O Fragmento de Forro da Igreja (século XIX), um dos pontos altos da mostra, também será instalado neste andar.
Pinturas e esculturas de artistas de outras épocas, mas que remetem ao estilo, personagens e objetos do Séc. XIX, também ganham espaço neste andar. Entre elas: Henrique Dias (s/d), de Raphael Galvez; Santa Cecília (1957), de Djanira da Motta e Silva; Santa Irapitinga do Segredo (1941), de Tarsila do Amaral; Mãe Preta (1950), de Agnaldo dos Santos; Fragmento com Três Anjos (Séc XVIII), de Mestre Valentim; As Perobeiras (1906), de Benedito Calixto; Palacete Elias Chaves (1910), de Nicola De Orsi.
23º andar – Séc. XX
Logo abaixo, no 23º andar, um ambiente dedicado a Semana de Arte Moderna de 1922 e à produção artística do Século XX. Ressaltam-se neste espaço pinturas e esculturas como: Retrato de Mário de Andrade (1922) e Autorretrato I (1924), de Tarsila do Amaral; Busto de Mulher (1910) e A Ventania (1915), de Anita Malfatti; Retrato de Adalgisa Nery (1930), de Ismael Nery; Bailarina (1925), de Victor Brecheret; Três Homens (1936), de Clóvis Graciano; Paisagem (1920), de Alfredo Volpi; Mulata na Cadeira (1970), de Di Cavalcanti.
Completam a seleção ainda, trabalhos de figuras como: Flávio de Carvalho; Nicola Petti; Cândido Portinari; Galileo Ememdabili; Émile Gallé; Regina Gomide Graz; HIlde Weber; Mario Zanini; Paulo Rossi Osir; Cícero Dias; Márcio Scavone e Vicente do Rego Monteiro; Aldo Bonadei; Francisco Rebolo; Hisamatsu Mitake; Madeleine Colaço; José Claudio; Genaro de Carvalho; Roberto Burle Marx; Claudio Tozzi; Hércules Barsotti; Antônio Henrique Amaral; Kennedy Bahia; Carybé.
22º andar – Arte Contemporânea
O 22º piso do Farol Santander SP será dedicado à produção artística contemporânea do século XX até os dias atuais. A ala chamada “Um Passeio na Avenida Paulista” destaca as obras da Coleção Santander Brasil.
Ali, em um trajeto que simula uma caminhada pela avenida mais icônica da Capital, os visitantes encontrarão telas, esculturas e fotografias emblemáticas de grandes artistas como: A Noite da Antropofagia (1995), de José Roberto Aguilar; Série Paisagens Construídas (2011), de Laura Gorski, Cena (2009), de Tuca Reinés; Lackkabinett (2010), de Flávia Metzler; Parque de Diversões (1969), de Agostinho Batista de Freitas; Circo (2008), de Luiz Braga; Sambistas (2000), de Cláudia Jaguaribe; Howling for you (2012), de Renata de Bonis.
O ambiente ainda conta com obras de Élle de Bernardini; Walter Firmo; Ranchinho; Mário Gruber; Emanoel Araújo; Vânia Toledo; Agenor; Siron Franco; Manezinho Araújo; Fernanda Rappa; Araquém Alcântara; Valdevino Alves Conceição; Cristiano Mascaro; Valdir Cruz.
Essa seleção exalta a diversidade de expressões étnicas, de gênero, raciais, de religião, e especialmente as questões das técnicas artísticas e conceituais dos artistas contemporâneos.
Sobre Ana Cristina Carvallho
Graduada em Economia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP), é Mestra e Doutora em Artes Visuais pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), com Pós-graduação em Gestão e Turismo Cultural pela Universidade de Barcelona e Especialização em História da Arte Decorativa e Catalogação de Obras de Arte pela Christie´s Education, New York.
É pesquisadora e escritora de várias publicações e textos sobre Patrimônio, Curadoria, Museus e Arte.
Atualmente, é membro Comitê Internacional para Museus-Casas Históricas do Conselho Internacional de Museus (DEMHIST-ICOM), do qual foi vice-presidente. É, atualmente, membro do Conselho do Comitê Brasileiro do ICOM. Também é membro da ABCA (Associação Brasileira de Críticos de Arte), da AICA (Associação Internacional de Críticos de Arte) e do ICCC (Instituto Cultural de Cerâmica de Cunha).
Desde 2007, é Curadora do Acervo Artístico-Cultural dos Palácios do Governo do Estado de São Paulo e organizadora do Encontro Brasileiro de Palácios, Museus-Casas e Casas Históricas.
Sobre Carlos Augusto Faggin
Carlos Augusto Mattei Faggin, nasceu em São Paulo em 1948. Arquiteto formado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, tem cursos de especialização na Universidade de Harvard em Cambridge e no Institute For Housing Studies em Rotterdam. Mestre, Doutor e Professor Livre Docente pela FAU/USP é Professor de História da Arquitetura e da História do Design nessa mesma Faculdade desde 1983.
Colaborou com os escritórios de Miguel Juliano e Silva, Jorge Wilheim no IPT-SP. Atuou como consultor de arquitetura na Technique Projetos Industriais e da ESCA, Eng. de Sistema de Controle e Automação, ATECH – Fundação Aplicações de Tecnologias Críticas, foi coordenador de projetos da Sperry Vickers S/A e do Grupo Eldorado.
Mantém seu próprio escritório de Projetos de Arquitetura, Design e Património Histórico desde 1970. Recebeu premiações em Concursos Nacionais. Foi Conselheiro do CONDEPHAAT por sete mandatos e Atual Presidente. Vice-Presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil – IAB-SP, Diretor Técnico da AsBEA Associação Brasileira dos escritórios de Arquitetura.
Sobre Fernando Brandão
Nasceu na cidade de São Paulo em 1960, formando em Arquitetura e Urbanismo pela FAU / Universidade de Santos em 1983. Atua nas áreas comercial, corporativa, promocional desde então recebendo os prêmios IAB, AsBEA, Abedesign, IF, IDEA, Red Dot, IAI AsiaPacific e inúmeros outros em sua carreira.
Foi diretor e vice-presidente da AsBEA (Associação Brasileira de Escritórios de Arquitetura). Em 2009 foi vencedor do concurso para o Pavilhão Brasileiro na Expo Universal 2010 Shanghai / China. Desde 2010 leciona na DeTao Masters Academy em Shanghai / China em parceria com a Peking University e Fudan Shanghai University.
Desde 2012 possui escritório em Shanghai / China na SIVA / Shanghai Institute of Visual Arts. Atualmente diretor do escritório Fernando Brandão Architecture and Design atuando nos mercados Chinês e Brasileiro. No ano de 2019 a revista AD Architecture Digest China o elegeu entre os 100 arquitetos mais influentes da China.
Em 2020 incluído no livro “The Most Beaultiful Rooms of the World” publicada pela AD Architecture Digest e Editora RIzzoli NY.
Sobre o Farol Santander São Paulo
Desde sua inauguração, em janeiro de 2018, o Farol Santander já recebeu mais de 1 milhão de visitantes e apresentou 26 exposições nos eixos temático e imersivo. As atrações do Farol Santander ocupam 18 pisos dos 35 do edifício de 161 metros de altura que, por um longo período, foi a maior estrutura de concreto armado da América do Sul.
As visitas começam pelo hall do térreo, que conta com a Loja da Cidade e o famoso lustre de mais de 1,5 toneladas, seguindo até o Mirante do 26º que, após a revitalização, ganhou um Café especial, com uma das vistas mais famosas de São Paulo.
Do 2º ao 5º andar os visitantes podem conhecer a história do prédio e da própria cidade, no Espaço Memória, que tem mobiliários originais feitos pelo Liceu de Artes e Ofícios nas salas de reuniões, diretoria e presidência, ambientadas sonoramente para simular o funcionamento a época como Banco do Estado de São Paulo.
No subsolo do edifício, está instalado o Bar do Cofre SubAstor, onde funcionava o cofre do Banco do Estado de São Paulo desde 1947 (tombado pelo Patrimônio Histórico). O bar é ambientado com as características da época e pitadas contemporâneas em design e mobiliários, com cartas de drinks especiais, além de comidinhas.
Já no 28º andar, foi inaugurado em outubro de 2021 o Boteco do 28 por Bar da Cidade, com um menu em referência à culinária da antiga Paulistânia, nascida da união entre ingredientes e costumes indígenas e portugueses, aliados às necessidades de deslocamento pelo grande território que correspondia à Capitania de São Paulo (1720).
Créditos: Germano Lüders