O Farol Santander São Paulo, centro de cultura, lazer, turismo e gastronomia, inaugura no dia 22 de março (sexta-feira), a exposição inédita Pancetti: o mar quando quebra na praia… que destaca a trajetória de José Pancetti, renomado pintor do segundo modernismo brasileiro (1930-1945) famoso por suas obras inspiradas no mar. Com curadoria de Denise Mattar, a mostra apresenta 42 trabalhos realizados entre 1936 e 1956, incluindo paisagens, retratos, naturezas-mortas e marinhas. Além das pinturas, haverá uma cronologia ilustrada e uma instalação imersiva reunindo músicas de Dorival Caymmi, imagens e sons do mar.

A exposição, apresentada pelo Ministério da Cultura, Esfera, Emdia e Santander Brasil, ocupará toda a galeria do 19º andar e ficará em exibição até 30 de junho (domingo).

“A seleção permite ao espectador apreciar as diversas facetas de Pancetti através de um conjunto de obras que nunca estiveram reunidas, sendo algumas delas até então, inacessíveis ao público. É uma oportunidade rara e única que o Farol Santander tem orgulho de proporcionar a seus visitantes”; comenta Maitê Leite, Vice-presidente Executiva Institucional do Santander Brasil.

Dentre esses trabalhos, alguns vem de colecionadores particulares, como Orandi Momesso, Ricard Akagawa e Nilma Pancetti, e outros das seguintes instituições: Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Museu Nacional de Belas Artes e Instituto Casa Roberto Marinho, do Rio de Janeiro e Acervo Banco Itaú, Museu de Arte Moderna de São Paulo e Museu de Arte Brasileira da Faap, em São Paulo.

As marinhas são a faceta mais conhecida do artista, na exposição estão presentes exemplos de seus primeiros trabalhos incluindo barcos e construções, registros austeros de diferentes pontos do litoral brasileiro, o intenso cromatismo e a composição diagonal do período baiano, e também obras sintéticas, nas quais a economia da composição beira o abstrato.

O encontro entre o mar e a areia é um tema constante na sua obra, um romance que ele retratou ao longo de sua vida com profunda emoção. Essa conexão também encantava seu amigo Dorival Caymmi, que cantava com sua voz profunda: “o mar, quando quebra na praia, é bonito, é bonito…”.

“Pancetti sempre foi um pintor original e intensamente pessoal. Seu temperamento solitário e a formação quase autodidata permitiram o surgimento de uma obra particular plena de lirismo, melancolia e poesia – uma obra que emociona. Sem estar preocupado com uma brasilidade teórica, Pancetti retratou amorosamente a nossa gente, a nossa luz e o nosso mar”; relata Denise Mattar, curadora.

Obras em destaque

Auto-vida, 1945, óleo sobre tela, 65 x 54 cm, coleção Gilberto Chateaubriand MAM Rio.

Autorretrato emblemático de Pancetti, no qual ele mescla realidade, imaginação e ironia. Na obra, intitulada pelo artista de Auto-vida, ele aparece garbosamente uniformizado, segurando um livro intitulado Ismos, apresentando-se assim como marinheiro e pintor. O artista circulava entre dois mundos bem diversos, o cotidiano da Marinha, que o lembrava de sua origem humilde e o sofisticado mundo das artes plásticas no qual era incensado.

Retrato de Francisco, 1945, óleo sobre tela, 46,5 x 38,5 cm, coleção MAM São Paulo – Doação Carlo Tamagni, 1967.

Retrata Francisco, um menino negro, tendo ao fundo a paisagem de um morro em São João del-Rei, cidade na qual Pancetti passou uma temporada em 1945. A figura ocupa quase a totalidade da tela, e fica clara a ternura e a delicadeza com que o artista pinta a criança simples, com olhar doce e ingênuo. 

O Chão, 1941, óleo sobre tela, 61,5 cm x 81 cm, coleção Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro.

Com a obra O Chão, Pancetti recebeu o cobiçado Prêmio de Viagem ao Exterior do Salão Nacional de Belas Artes de 1941, ano no qual, pela primeira vez, houve a chamada Divisão Moderna. Foi o reconhecimento público de um artista autodidata que, por pouco tempo, frequentou o Núcleo Bernardelli, no Rio de Janeiro. 

Praça Clóvis Bevilacqua, 1949, óleo sobre tela, 35,7 x 44 x 5 cm, coleção Orandi Momesso, São Paulo.

Praça Clóvis Bevilacqua foi pintada em 1949, das janelas do Palacete Santa Helena, local onde dividiam o ateliê os artistas, Volpi, Rebolo, Mário Zanini, Manoel Martins, entre outros. A tela coloca em primeiro plano, com certa singeleza, a igreja da praça, mas deixa ver ao fundo as inúmeras e tristes chaminés fumegantes das fábricas paulistanas daquela época.

Floresta, Campos de Jordão, SP, 1944, óleo sobre tela, 39 x 46,5 cm, Acervo Museu de Arte Brasileira – MAB FAAP, São Paulo.

Pancetti esteve algumas vezes em Campos do Jordão. Um dos motivos era sua saúde, pois na época a região era considerada adequada para tratamento de doenças nos pulmões. O artista pintou muitas vistas da cidade, mas são especialmente frequentes seus registros das florestas, nas quais fazia longas caminhadas.

Pescadores, 1956, óleo sobre tela, 26 x 40,2 cm, coleção Nilma Pancetti, Rio de Janeiro.

Essa obra incomum na produção de Pancetti, retrata a pesca do xaréu, corriqueira nas praias de Salvador nos anos 1950. A atividade exigia dos Pescadores, força e ritmo, criando quase uma coreografia, apreciada pelos artistas, e muito retratada nos desenhos de Carybé, nos livros de Jorge Amado e nas fotos de Pierre Verger.

Série Bahia, 1951, óleo sobre tela, 46,2 x 55,1 cm, Instituto Casa Roberto Marinho, Rio de Janeiro.

Pancetti frequentemente capturava a linha violácea que emerge entre o céu e o mar ao pôr do sol. No entanto, nesta obra em particular, ele adota uma abordagem mais marcante. A variedade de tons, que vão do rosa ao roxo, parece ser uma expressão da exuberância da Bahia, refletida nesta obra vibrante.

Lagoa do Abaeté, 1952, óleo sobre tela, 38 x 54,5 cm, coleção Marcos Ribeiro Simon, São Paulo.

A descoberta da Lagoa do Abaeté, com suas águas escuras, a areia branca e a festa colorida dos panos das lavadeiras, foi outro momento de encanto intenso para o artista. Nas palavras de Aloysio de Paula: “Sua luz se enriquece e adquire poder e intensidade como nunca ele a exibira. Tudo canta no Abaeté. Seus verdes são mais verdes, seus vermelhos mais vermelhos”. 

Paisagem de Itapuã, 1953, óleo sobre tela, 38 x 55 cm, coleção Gilberto Chateaubriand MAM Rio.

Um fato significativo sobre a obra de Pancetti é que um trabalho do artista foi o quadro inicial de três das mais importantes coleções de arte do Brasil: Coleção Gilberto Chateaubriand (Paisagem de Itapuã, 1953), Coleção Sergio Fadel (Praia em Cabo Frio, 1947) e Coleção Roberto Marinho (O Boneco, 1939). A coincidência não parece ser um acaso, pois o temperamento solitário e simples do artista permitiu o surgimento de uma obra que tem o dom de comover.

Coqueiros de Itapuã, 1956, óleo sobre tela, 45,4 x 64,4 cm, coleção Santander Brasil. 

Utilizando faixas de cor, que se alongam de um lado a outro da tela, Pancetti pinta a areia com seus diferentes tons, a espuma, o mar, a linha do horizonte, o pálido do encontro de céu e mar, as nuvens levemente rosadas e finalmente o azul do ar. A planaridade da composição é cortada pela verticalidade dos Coqueiros, registrando apenas o leve balanço das suas folhas. Realizada em 1956, é uma obra da última fase da pintura de Pancetti, momento no qual o artista alcança uma plenitude criativa.

A exposição é constituída pelos seguintes núcleos:

Retratos

Os retratos são únicos, e, de forma diversa de alguns de seus contemporâneos, que aceitavam encomendas para retratar membros da sociedade, o artista sempre optou por retratar pessoas comuns, com as quais se identificava, fazendo algumas exceções para amigos escritores ou músicos.

Paisagens

Pancetti, conhecido por retratar o que estava próximo a ele, começou pintando barcos, arsenais e galpões da Marinha. Sua transição para paisagens urbanas revela um sentimento de desconforto, com figuras humanas pequenas e oprimidas entre edifícios e ruas vazias.  Seu contato com a natureza, durante viagens pelo Brasil traz uma sensação diferente, capturando a luz, água, céu e vegetação de cada local. Suas obras apresentam cores sutis, formas reduzidas e cortes marcantes, demonstrando uma modernidade distinta de seus contemporâneos.

Naturezas-Mortas

As naturezas-mortas têm características próprias desde o início de sua produção, mas, com o tempo, o artista ousa mais e mais, criando verdadeiras obras-primas em um tema que se adapta perfeitamente à sua produção estática. Suas composições híbridas mesclam frutas, flores, quadros e figuras em enquadramentos incomuns, oferecendo uma perspectiva única e uma superposição de elementos. Nessa aparente simplicidade, Pancetti estabelece uma sofisticada metalinguagem, onde a pintura discute sobre a própria pintura.

Bahia

A mudança para a Bahia, na década de 1950, modificou a personalidade e a obra de Pancetti, a alegria tornou o artista mais doce, e ele explodiu em cores quentes e fortes. As marinhas tornaram-se intensas e plenas de luz, e seu amor pela cidade perpetuou a linda Salvador da época. Pancetti chegou num momento especial, pois, na recém fundada Universidade da Bahia ministravam aulas intelectuais da mais absoluta vanguarda como: Koellreutter, Lina Bo Bardi, Yanka Rudzka e Martim Gonçalves. Em consonância com essa efervescência, artistas plásticos como Mario Cravo Jr., Genaro de Carvalho, Carybé, Rubem Valentim e Agnaldo dos Santos construíam uma marcante visualidade da Bahia. Assim, o artista circulou entre o mundo sagrado de Mestre Didi, as sensuais narrativas de Jorge Amado e o som de Dorival Caymmi, celebrando ao violão a beleza e o poder de Iemanjá, senhora das águas e rainha do mar.

Marinhas

Pancetti pintou por toda a sua vida, aumentando significativamente sua produção a partir de 1946, quando foi reformado da Marinha. A partir de então, o mar, que já era fundamental na sua produção, torna-se cada vez mais importante. O percurso estético do artista é marcado por uma progressiva geometrização, e pela importância que a cor vai ganhando sobre a forma, até tornar-se protagonista quase absoluta das composições. À beira d’água ele pinta ocres, rosas e violetas do pôr-do-sol. O encontro entre o mar e a areia torna-se mais e mais constante, e, nesse processo, Pancetti reduz ao mínimo a forma, tornando-se quase abstrato.

Sobre Denise Mattar

Foi diretora do Museu da Casa Brasileira, Museu de Arte Moderna de São Paulo e Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Como curadora independente realizou mostras retrospectivas de Di Cavalcanti, Flávio de Carvalho (Prêmio APCA), Ismael Nery (Prêmios APCA e ABCA), Pancetti, Anita Malfatti, Samson Flexor (Prêmio APCA), Yutaka Toyota (Prêmio APCA), entre outras. E mostras temáticas como: Traço, Humor e Cia, O Olhar Modernista de JK, O Preço da Sedução, O’ Brasil, Homo Ludens, Nippon, Brasília – Síntese das Artes, Tékhne e Memórias Reveladas, (Prêmio ABCA).

Exposição: Pancetti: o mar quando quebra na praia…

Curadoria: Denise Mattar

Patrocínio: Ministério da Cultura, Esfera, Emdia e Santander Brasil

Sobre o Farol Santander São Paulo.

Desde sua inauguração, em janeiro de 2018, o Farol Santander São Paulo, centro de cultura, turismo, lazer e gastronomia, já recebeu mais de 1,7 milhão de visitantes e apresentou mais de 47 exposições nos eixos temáticos e imersivos. 

Construído para preservar o passado, iluminar o presente e transformar o futuro, as atrações do Farol Santander ocupam 17 dos 35 andares do edifício de 161 metros de altura que, por décadas, foi a maior estrutura de concreto armado da América do Sul. 

As visitas começam pelo Hall do térreo, que surpreende com o famoso lustre de 13 metros de altura, pesando mais de 1,5 tonelada, passando pela Loja da Cidade e seguindo até o 26° andar. No Mirante do 26, o visitante poderá apreciar deliciosos cafés por Mag Café, enquanto admira uma das vistas mais famosas de São Paulo. 

Do 24° ao 19° andar estão as galerias de arte que recebem exposições temporárias, apresentando trabalhos de diversos artistas nacionais e internacionais. E do 5º ao 2º andar, no Espaço Memória, os visitantes podem conhecer a história do prédio e da própria cidade de São Paulo. Esses andares preservam mobiliário original, executado pelo Liceu de Artes e Ofícios, expostos nas salas de reuniões, diretoria e presidência, ambientadas sonoramente para simular o funcionamento de uma instituição bancária na primeira metade do século XX. Na galeria do 4º andar fica a obra Vista 360°, feita pelo artista brasileiro Vik Muniz exclusivamente para o Farol Santander São Paulo. 

No subsolo do edifício, onde funcionava o cofre do Banco, está instalado o Bar do Cofre por SubAstor. O bar é ambientado com as características da época e pitadas contemporâneas em design e mobiliários, com carta de drinks especiais e aperitivos.

Outro espaço conectado a gastronomia é a Cozinha do 31 por Accademia Gastronomica, que mantém uma agenda semanal de cursos e aulas de gastronomia ministradas por renomados chefes de cozinha. E no 28º andar, o Boteco do 28 por Bar da Cidade, com um menu em referência à culinária da antiga Paulistânia, nascida da união entre ingredientes e costumes indígenas e portugueses. 

Mais um diferencial da instituição é a inusitada Pista do 21 por Rajas Skatepark, um dos maiores complexos esportivos, nomeada pelo Guinness Book como a mais alta do mundo  para prática do skate do país, com instrutores homologados pela Federação Paulista da modalidade indoor. A pista de skate fica localizada no 21º andar do edifício e pode ser reservada para livre circuito de até sete skatistas por bateria, além de oferecer agendamento de aulas. 

Além dos andares culturais e gastronômicos, o prédio possui dois espaços exclusivos para eventos. No 25° andar, um incrível ambiente de 400m² decorado com elegante design, o Loft do 25 é um local sofisticado e contemporâneo que se adapta a diversos formatos de evento. E, no 8° andar, a Arena do 8 é o espaço ideal para palestras, encontros e debates, oferecendo equipamentos de áudio e vídeo, além da linda vista para o Vale do Anhangabaú e Avenida São João.