Em sua terceira edição, a cerimônia de entrega do Prêmio Multicultural Estadão contemplou não só os ganhadores – José Celso Martinez Correa, Luís Fernando Veríssimo, Marco Antônio Guimarães (criadores) e Emanoel Araújo (fomentador), como também os demais indicados. Como parte do evento, a exposição Território Expandido, reuniu as peças de catorze artistas plásticos especialmente convidados para fazer uma leitura da obra de cada um dos indicados e traduzir para seu universo de criação.

Além dos vencedores, eleitos por um colégio eleitoral de cerca de 4 mil artistas, intelectuais, produtores culturais e críticos de todo o país, foram homenageados os criadores Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown, Quasar Cia. de Dança, Júlio Bressane, Jurandir Freire Costa, Maria Isaura Pereira de Queiroz, Zulmira Ribeiro Tavares e os fomentadores Carlos Ávila, Maurice Capovilla e Samuel Leon. 

A iniciativa reproduziu no terreno das artes visuais o principal objetivo do prêmio: premiar artistas e fomentadores de grande destaque no país, estimulando a produção e a divulgação da arte e da cultura nacional. O PRÊMIO MULTICULTURAL ESTADÃO era destinado a artistas, intelectuais, promotores e patrocinadores que se destacam por sua atuação, produzindo transformações no processo cultural brasileiro, independentemente da área de criação.

Os vencedores foram escolhidos em votação direta por um colégio eleitoral formado por cerca de 4 mil profissionais da cultura de todo o país, a partir de uma lista com 14 indicações, entre 10 criadores (artistas e intelectuais) e quatro fomentadores (promotores e patrocinadores culturais), dos quais são premiados três criadores e um fomentador. A seleção dos indicados foi feita por uma comissão independente formada por intelectuais de diversas regiões do país, este ano composta por: Berenice Menegale, Gerd Bornheim, Jean Claude Bernadet, José Miguel Wisnik, Paulo Cesar Souza, Roberto DaMatta, Renato Janine Ribeiro, Rogério Duarte Guimarães e Wilson Bueno.

Nesta edição, a láurea recebida pelos vencedores será representada por esculturas especialmente criadas pela artista plástica Nina Moraes. Cada criador premiado receberá também trinta mil reais, como estímulo à continuidade de suas atividades. Já o fomentador eleito, devido à natureza de sua atuação, não é contemplado com recursos financeiros.

 

TERRITÓRIO EXPANDIDO

Graças a uma parceria com o SESC (Serviço Social do Comércio de São Paulo), a homenagem aos indicados para o Prêmio Multicultural Estadão, chegou ao domínio público por meio da exposição Território Expandido, na Área de Convivência do SESC Pompéia.

Com curadoria de Angélica de Moraes, a mostra exibiu os trabalhos de artistas consagrados, revelações do último período e jovens talentos: Ana Maria Tavares, Ângelo Venosa,  Carlos Fajardo, Carmela Gross, Daniel Acosta, Élida Tessler, Fernando Limberger, Laurita Salles, Lúcia Koch, Mário Ramiro, Nelson Félix, Sandra Cinto, Shirley Paes Leme e Valéria Dantas Mota.

Assim como no Prêmio Multicultural Estadão não há segmentação por setores artísticos nem por categorias profissionais, a curadoria de Território Expandido  explorou o conceito contemporâneo de território expandido da escultura. Todos os artistas recorrem a materiais e procedimentos que vão além das formas tradicionais da expressão tridimensional, incluindo até mesmo a incorporação do espaço arquitetônico do local.

Território Expandido aposta no diálogo criativo entre os vários segmentos da cultura nacional. Cada artista foi convidado a traduzir para a sua linguagem e o seu universo de criação as referências de grandes nomes do panorama cultural nacional. Por isso a distribuição das duplas artista/homenageado buscou levar em conta a proximidade entre os  universos criativos desses dois agentes.

A oportunidade gerou encontros interessantes, como a homenagem de Ângelo Venosa para Jurandir Freire Costa: como Costa já foi seu psicanalista, Venosa inverteu os papéis para analisar, sob o ponto de vista de sua arte, a obra do analista. O resultado é a reprodução em metal, com mais de um metro de altura, do rosto de Costa, fatiado como se tivesse passado por uma tomografia. Ana Maria Tavares homenageia o único artista plástico entre os indicados, o diretor da Pinacoteca do Estado, Emanoel Araújo, justamente dando continuidade a suas investigações sobre o espaço que abriga a obra de arte. Ao criar um ponto de observação que permite observar todas as peças, seu trabalho interage com toda a exposição.

OS ARTISTAS E SEUS HOMENAGEADOS

Ana Maria Tavares/Emanuel Araújo

Ângelo Venosa/ Jurandir Freire Costa 

Carlos Fajardo/ Arnaldo Antunes

Carmela Gross/ José Celso Martinez Corrêia

Daniel Acosta/ Luis Fernando Verissimo

Zlida Tessler/ Zulmira Tavares

Fernando Limberger/ Maurice Capovilla

Laurita Salles/ Samuel Leon

Lucia Koch/ Julio Bressane

M‡rio Ramiro/ Marco Antonio Guimarães

Nelson Felix/ Carlinhos Brown

Sandra Cinto/Carlos Ávila

Shirley Paes Leme/Quasar Cia de Dança

Valerie Dantas Mota/ Maria Isaura Pereira de Queirós

OS HOMENAGEADOS

 

Arnaldo Antunes – Poeta e compositor que incursiona pela multimídia, o “ex-titâ” renova a música pop brasileira com uma poética ousada.

Carlinhos Brown – Instrumentista, arranjador, compositor, agitador cultural, líder social e legítimo herdeiro do tropicalismo.

Quasar Cia de Dança – Companhia de dança goiana que usa a linguagem do cinema como fonte de inspiração e adota o humor e a irreverência em oposição à frieza das coreografias contemporâneas.

José Celso Martinez Corrêa – Diretor que fundou o Teatro Oficina há 40 anos e inspirou o movimento tropicalista, realiza espetáculos antológicos e ousados como “Roda Viva”, “O Rei da Vela”, “Ham-let” e “Cacilda!”.

Júlio Bressane – Diretor iconoclasta, inventor do filme underground brasileiro, realizador de dezenas de curtas e longas renovadores da nossa linguagem audiovisual.

Jurandir Freire Costa – Psicanalista que analisou o apego neurótico dos políticos ao poder, é um dos raros intelectuais brasileiros que consegue fácil comunicação com o público.

Luis Fernando Verissimo – Escritor das mais variadas mídias e um dos melhores cartunistas em atividade, trata de assuntos muito sérios sem perder o humor, sendo apontado como reserva crítica do País.

Marco Antônio Guimarães – Músico, compositor, diretor musical, inventor e construtor dos instrumentos do grupo Uakti e de objetos sonoros para museu, é criador de trilhas para dança e cinema.

Maria Isaura Pereira de Queiroz – Cientista social com livre trânsito intercultural, é autora do premiado “O Messianismo no Brasil e no Mundo” e de outros livros antológicos sobre a nossa realidade cultural.

Zumira Ribeiro Tavares – Autora de romances, novelas e textos curtos, sua obra valoriza o senso artístico moderno sem sujeição às exigências do moderno.

Carlos Ávila – O poeta e jornalista uniu experimentação e pesquisa a um diálogo vivo com a tradição, tornando o Suplemento Literário de Minas Gerais um dos mais respeitados tablóides culturais do País.

Emanoel Araújo – Diretor da Pinacoteca do Estado, o escultor transformou o museu público encravado numa área deteriorada de São Paulo em um dos melhores e mais visitados da cidade.

Maurice Capovilla – Criador do polo cinematográfico do Ceará, o diretor do Cinema Novo agora contribui para descentralizar e desenvolver a produção audiovisual do país.

Samuel Leon – Criador e editor da Iluminuras, revelou ao país grandes nomes da literatura mundial, ousando ocupar com um projeto cultural as lacunas do nosso mercado editorial.

OS PREMIADOS

 

JOSÉ CELSO MARTINEZ CORRÊA  

Autor e diretor de “Cacilda”, um dos espetáculos mais prestigiados dessa temporada, Zé Celso foi o homem que introduziu no palco a antropofagia de Oswald de Andrade, em “O Rei da Vela”,  marco revolucionário do teatro que inspirou, há 31 anos, o movimento tropicalista. Fundador do Teatro Oficina, onde está até hoje, Zé Celso foi preso durante a ditadura militar após ter montado espetáculos antológicos com o grupo, entre eles o musical “Roda Viva”, de Chico Buarque, e várias peças de Brecht. Exilado em Portugal, ele voltou ao Brasil há 20 anos e começou um movimento para retomar e reconstruir o Oficina, palco, desde 1982, de algumas das mais ousadas montagens brasileiras como “As Bacantes”, “Mistérios Gozosos”, “Ham-let” “As Boas” e “Ela”, as duas últimas escritas pelo poeta francês Jean Genet. Como ele, Zé Celso é um homem de teatro que desconhece a fronteira entre sexo e política. Das montagens sintonizadas com o socialismo antrofágico dos anos 60 às propostas de liberação sexual nos 90, o objetivo de seu teatro parece ser o mesmo: libertar o corpo social. Apaixonado pelo teatro, busca agora inserir o Oficina na internet e na TV.

LUIS FERNANDO VERISSIMO

Apontado por muitos como uma espécie de reserva crítica do país, o escritor Luis Fernando Verissimo, um dos mais lidos cronistas do “Caderno2”, consegue tratar de assuntos sérios sem perder o humor por um segundo. Seu novo livro, “O Clube dos Anjos”, é uma prova de como Verissimo usa a histérica mania por assassinatos em série como uma inteligente metáfora dos excessos cometidos por gulosos gourmets no País. Autor do romance “O Jardim do Diabo” e dos livros de contos “A Comédia da Vida Privada”, transformados em série de televisão, Verissimo, um tímido saxofonista de jazz na intimidade, criou o famoso personagem do analista de Bagé, um psiquiatra da fronteira, cuja técnica terapêutica se baseia no joelhaço. Além de escritor, ele é um excelente desenhista, como demonstra a série de tiras “As Cobras”, publicada até

há pouco em vários jornais brasileiros. Filho do grande escritor Érico Verissimo, ele herdou do pai o interesse pela literatura e pela política, numa terra, o Rio Grande do Sul, dividida entre chimangos e maragatos.

MARCO ANTONIO GUIMARÃES

Músico e compositor mineiro discípulo de Walter Smetak, foi um dos fundadores do Grupo Uakti e criador de algumas das melhores trilhas do Grupo Corpo. Marco Antônio Guimarães, que completou 50 anos, foi violoncelista de sinfônicas paulistas e mineiras. Cria e constrói os inusitados instrumentos do Uakti, tendo sido convidado pelo museu

Exploratorium, de São Francisco, a elaborar aparelhos sonoros exclusivos para seu acervo permanente. A sonoridade do Uakti, que transita pelos melhores circuitos da World Music do planeta, também encantaram Paul Simon e Philip Glass, levando a parcerias em gravações e trilhas. Hoje, Marco Antônio Guimarães não se apresenta mais com o grupo, mantendo-se como seu compositor e inventor de instrumentos. Dedica-se à criação de trilhas para o cinema, entre elas as dos filmes “Kenoma” e os ainda inéditos “Lavoura Arcaica”, de Luiz Fernando Carvalho, e “Primeiras Estórias”, de Pedro Bial. Muito influenciado pelo compositor suíço Ernst Widmer, o músico mineiro é também professor.

EMANOEL ARAÚJO

O escultor e agitador cultural Emanoel Araújo conseguiu transformar um prédio encravado numa das mais deterioradas áreas de São Paulo, a Pinacoteca do Estado, no mais bonito museu da cidade, atraindo visitantes que nunca tiveram, antes, a curiosidade de saber o que existia no interior daquele prédio de tijolos aparentes construído no

começo do século por Ramos de Azevedo. Emanoel Araújo não só reabriu o prédio em grande estilo como promoveu grandes exposições, entre elas a do escultor francês Auguste Rodin (vista por 150 mil visitantes há três anos). Foi também graças a ele que obras de outros grandes escultores franceses como Maillol e Camile Claudel foram exibidas em São Paulo, atraindo um novo público. Esse êxito tem possibilitado boas parcerias com a iniciativa privada. Araújo, que foi diretor do Museu de Arte da Bahia, dedica-se à ampliação e restauração do acervo da Pinacoteca, a maior coleção de arte brasileira do século 19 em São Paulo, agora exposta em caráter permanente.

O evento aconteceu no ano de 1999, com a assessoria de imprensa da Marra Comunicação