Eleita a Melhor Orquestra do Ano no Prêmio Carlos Gomes de 2006, a Orquestra Sinfônica da Universidade de São Paulo prosseguiu com uma série temática de concertos que lembrava o centenário de Camargo Guarnieri, seu fundador, e visava ampliar ao público brasileiro o acesso à música erudita, oferecendo também informações que proporcionem uma melhor compreensão das obras.

Em uma apresentação na Sala São Paulo, dentro da série Mosaico, a OSUSP evocou a obra do finlandês Jean Sibelius (1865-1957), um dos mais importantes nomes da música erudita escandinava. Tratava-se de um concerto voltado a diferentes perfis de espectadores, com preços acessíveis, que representou a missão principal da orquestra: levar cultura de qualidade à população.

Com a regência do diretor artístico e maestro Carlos Moreno, foram interpretadas, além da Sinfonia nº 2, de Jean SibeliusTransfigurationes, de Mário Ficarelli (um dos maiores conhecedores da obra do finlandês); e o Concerto nº 3 para piano e orquestra, do ucraniano Sergei Prokofiev. Neste último, acompanhou os músicos, no piano, a solista convidada Sylvia Thereza.

As obras

Jean Sibelius é apontado como um grande responsável pela afirmação da identidade de seu país, pois suas composições são marcadas pela melancolia das canções populares, das paisagens, da história e da mitologia nacionais. A Sinfonia nº 2, considerada a mais popular e elaborada dentre as compostas por ele, baseia-se no período em que a Finlândia esteve vinculada à Rússia, entre 1809 e 1917.

Nela, os movimentos da orquestra procuram ressaltar o povo finlandês, que resistiu durante mais de 100 anos à dominação do czarismo russo. A primeira apresentação pública desta sinfonia ocorreu em 1921, quatro anos após a independência da Finlândia, e consolidou a fama de Sibelius como ícone nacional. “É a mais bela sinfonia, na qual podemos notar uma riquíssima inspiração do folclore do país. Será um grande concerto da OSUSP para os amantes da música”, destaca o maestro Carlos Moreno.

Transfigurationes, de Mário Ficarelli, relaciona-se ao conceito de mudança radical, seja na aparência, no caráter ou na forma, e foi inspirada em fundamentos da teoria do astrônomo Johannes Kepler, um estudioso dos movimentos realizados pelos planetas. Criada para ser estreada pela Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP), a obra foi apontada pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) a melhor música de 1981.

A composição traz em sua base a representação dos movimentos do planeta Terra, recriados em jogos com as notas musicais Fa e Mi. Os movimentos de descedência (Fa-Mi) e ascendência (Mi-Fa) significam, respectivamente, uma Terra decadente, pessimista, e outra em ascensão, otimista, em busca de unidade.

Já o Concerto nº 3 para piano e orquestra, de Prokofiev, foi composto inicialmente em 1917, durante os nove meses em que Prokofiev se exilou na região do Cáucaso fugindo dos conflitos ocasionados pela Revolução Russa. Isolado, longe dos distúrbios ocorridos em São Petersburgo, cidade em que vivia, ele desfrutou de um período bastante criativo. A estréia, ocorrida no outono de 1921, nos Estados Unidos, provocou reações entusiasmadas em Chicago e confusas em Nova Iorque.

MAESTRO CARLOS MORENO

O Maestro Carlos Moreno, natural da cidade de Petrópolis, no estado do Rio de Janeiro, é hoje um dos mais requisitados maestros de sua geração, atuando como convidado das principais orquestras brasileiras e outras formações como corais e bandas. Vencedor do prêmio Carlos Gomes de 2003 – na categoria “Revelação” – iniciou seus estudos aos seis anos de idade, tocando piano, dedicando-se posteriormente também ao violino.

No Instituto dos Meninos Cantores de Petrópolis, escola de tradição alemã na qual ingressou em 1978, cursou, além do canto coral, harmonia, teoria, história da música e percepção musical. Por ter uma voz privilegiada, atuou como solista-soprano em obras como Laudate Dominum, de Mozart, e Missa em G, de Schubert. Neste mesmo período, atuou como spalla da orquestra jovem Camerata Abrarte, dirigida pelo maestro Gilberto Bitencourt, com quem teve suas primeiras noções em regência.

Como violinista teve uma forte atuação profissional participando das orquestras Pró-Música de Juiz de Fora, Orquestra do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, Orquestra Sinfônica Petrobrás Pró-Música e Orquestra Sinfônica Nacional. Em 1998, venceu o quinto Concurso Latino-Americano para Regentes, promovido pela OSUSP, obtendo além do primeiro lugar o convite para atuar em oito concertos na temporada do seguinte ano.

Desde 2002, é maestro e diretor da Orquestra Sinfônica da USP, elevando-a como uma das melhores orquestras do Brasil. Realizando ciclos sinfônicos completos, trouxe para este conjunto uma sonoridade própria e de alto nível técnico e interpretativo registrados em gravações ao vivo na Sala São Paulo. Em agosto de 2006, foi o primeiro brasileiro a participar, como professor de regência, do International Workshop for Conductors, na realizado na República Tcheca.

SYLVIA THEREZA

Natural do Rio de Janeiro, a solista Sylvia Thereza é apontada pelo público e crítica especializada como uma das mais gratas revelações no cenário musical brasileiro da nova geração. Primeiro lugar em doze dos mais tradicionais concursos de piano do País, apresenta-se desde os 11 anos de idade. Após uma temporada no exterior, retornou ao Brasil em 2001 e desenvolve um intenso trabalho sob a orientação de Myrian Dauelsberg. Em 2005, realizou sua 1º turnê em Israel como solista de Malediction de Liszt, com a Orquestra de Câmara de Tel Aviv. No mesmo ano, estreou na Sala São Paulo  com a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP), sob a regência do maestro israelense Yoav Talmi. Recentemente, retornou de uma estada nos Estados Unidos, onde foi convidada para participar do International Keyboard Festival, em Nova Iorque. Para 2007, tem uma importante turnê programada, que passará por Alemanha, Suíça e França.

MÁRIO FICARELLI

Mário Ficarelli estudou piano com Maria de Freitas Moraes e Alice Philips e composição com Olivier Toni. Seu catálogo de obras conta atualmente com mais de 60 composições escritas para quase todas as formações instrumentais: câmara, vocal, coral, cênica e sinfônica. Obteve vários prêmios em concursos de composição no País e no exterior, em locais como França e Alemanha. Possui diversas obras editadas no Brasil, na Europa e nos Estados Unidos. Dedicado também ao magistério, leciona composição e outras disciplinas na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), onde é professor Livre Docente em composição, tendo sido eleito, em 1997, Chefe do Departamento de Música. Sua tese de Doutorado, defendida na Universidade de São Paulo, versa sobre as “Sete Sinfonias de Jean Sibelius”. Além disso, é membro da Sociedade Brasileira de Música Contemporânea desde 1975 e da Academia Brasileira de Música (ABM) desde 1994, tendo participado da diretoria de ambas. Desde 1992, faz parte também da SUISA – Schweizerische Gesellschaft für die Rechte der Urheber musikalischer Werke.

SERGEI PROKOFIEV

Nascido em 1891, o ucraniano Sergei Sergeyevich Prokofiev viveu São Francisco, Estado Unidos, entre 1918 a 1920. Posteriormente mudou-se para a Europa Ocidental, onde realizou turnês como pianista nas quais interpretava obras próprias como os 5 Concertos para piano e as suas cinco primeiras Sonatas para piano. Durante este período, compôs para o empresário de balé russo Serguei Diaguilev os bailados Chout (1921) e O passo de aço (1927). Seu Concerto nº 3 para piano data desta mesma época, tendo sido composto em 1917, em plena Revolução Russa. Em sua trajetória, Prokofiev enfrentou problemas com a censura por não se adequar ao estilo do realismo soviético. Faleceu em 1953, deixando iniciados os ensaios para o seu bailado A flor de pedra (1950), levado à cena em 1954.

JEAN SIBELIUS

Tido como um dos mais importantes nomes escandinavos da música erudita, Jean Sibelius, nascido no dia 8 de dezembro de 1865, é autor de composições marcadas pela melancolia das canções populares, das paisagens, da história e da mitologia da Finlândia, seu país de origem. A principal parte de sua obra é uma coleção de sete sinfonias, sendo que cada uma delas trabalha uma idéia musical e/ou desenvolver seu próprio estilo. Suas sinfonias continuam populares em gravações e salas de concerto. Dentre suas composições mais famosas, destacam-se Finlandia, Valsa Triste, Karelia Suite e O Cisne de Tuonela. Outros trabalhos incluem cerca de 100 canções para piano e voz, música incidental para 13 peças, uma ópera, música de câmara, peças para piano, 21 publicações separadas para coral e músicas para rituais maçônicos. Após ter vivido mais de 90 anos, Sibelius faleceu em 20 de setembro de 1957.

O concerto aconteceu no ano de 2007, com a assessoria de imprensa da Marra Comunicação para a OSUSP.

Foto: divulgação