“Na Galeria com Quintana” foi o evento de lançamento da Cooperativa Paulista de Dança, iniciativa inédita no panorama da dança paulista, que foi realizado na Galeria Olido, em São Paulo.

No ano em que se comemorou o centenário de Mario Quintana, os criadores/ intérpretes da Cooperativa Paulista de Dança realizaram “Na Galeria com Quintana”, inspirados no livro de poesias do autor “Sapato Florido”, de 1948. As oito criações inéditas transpuzam para o plano das artes cênicas, em especial da dança, a “prosa-poética” de Quintana.

Também fizeram parte do projeto 5 oficinas que foram ministradas pelos bailarinos da cooperativa no mesmo período das apresentações:

Quarta: Angélica Rovida – “Aula Show Dança Do Ventre”

Quinta: Cristiane Marcondes – “Atelier Coreográfico”

Sexta: Camila Ganc – “Oficina De Dança Moderna”

Sábado: Jussara Miller – “Corpo E Movimento”

Domingo: Raymundo Costa -“Técnica De Dança Contemporânea

OS TRABALHOS

“AMAR É MUDAR A ALMA DE CASA” – Angélica Rovida

 

Foram apresentadas algumas das modalidades de dança do ventre, simbolizando os “estágios do amor” que passa o enamorado até o amadurecimento desta emoção. Uma espécie de leitura da autora dos estados da alma do amante, em relação ao ser amado. Dança com castiçal: fase do encantamento, a sedução. Dança com pandeiro: fase da paixão,”muito barulho por nada”. Dança com véus: fase da revelação, caem os véus. A verdadeira identidade é desvelada. Dança com bastão e solo de percussão: fase dos conflitos, discussões, brigas. Dança da espada: fase do ajuste, encontra-se o equilíbrio. Dança com snujs (castanholas de metal): fase da celebração, amadurecimento.

 “VIRAÇÃO” – Armando Aurich        

O solo teve como ponto de partida o poema Mario Quintana. “Busco através dos estados de escuta, mergulhar nos meus pensamentos, para que as sensações encontradas no corpo sejam transformadas em movimento. Imagens, interioridade, instinto. Uma busca essencial de interação dos sentidos. Projeções do inconsciente. Imagens do subconsciente. Meus estímulos internos.”

“EPÍLOGO” – Camila Ganc                                                                

Mergulhando no universo de Mario Quintana, onde cada momento, cada paisagem, cada suspiro se torna uma poesia repleta de movimentos, humores e cores, Camila selecionou o poema “Epílogo” para aprofundar a pesquisa da relação entre o equilíbrio e desequilíbrio, dentro e fora do eixo e dos ritmos internos e externos, manifestos ou não manifestos, presentes nos sentimentos, expressos através de movimentos do corpo no espaço.

O instrumento musical pau-de-chuva, em interação com o corpo, manifestará de forma sonora os movimentos de transição do eixo.

 “AS FALSAS RECORDAÇÕES” – Carmen Gomide

Memórias parecem registros adormecidos que o corpo guarda e acolhe, num processo de justaposição entre o passado e o presente, tornando o artista/intérprete/criador em uma espécie de elemento catalizador dessas experiências. O processo das memórias do corpo e suas singularidades. A memória não se reduz ao que foi vivido no passado. Memória: é esse elemento do passado, transformado ao ser trazido para o presente. O corpo emerge em um outro estado de intensidades, estabelecendo um diálogo de vida/memória/vida .É a luta pela estabilidade nesse corpo atual.

“DO SOBRENATURAL” – Cris Marcondes

                                                                                                                                                    

O corpo se prostra ao chão, à terra. Uma sucessão de movimentos de suspensão e abandono do corpo. O barro é berço do nascimento e dele o caminho para o sagrado. A cuia (símbolo desse sagrado) é o elemento que compõe o movimento do corpo como um diálogo entre dançarino e objeto. As cuias são as imagens de diferentes estados: a gestação, a fome, o filho, a máscara; que terminam por fim mergulhadas em um aquário cheio de água.

“PASSEIO” – Jussara Miller

Trata-se de um duo de dança que desenha um percurso de estórias e relações humanas que são explicitadas através de imagens poéticas construídas na cadência da coreografia. O trabalho é livremente inspirado no poema Passeio de Mário Quintana: “Oh! Não há nada como um pé depois do outro…” Nessa coreografia, o Passeio apresenta-se como uma metáfora da vida no tempo presente, que não busca um fim a ser alcançado, mas privilegia o meio a ser percorrido e vivenciado.

Direção e Coreografia: Jussara Miller

Intérpretes criadores: Bukke Reis e Jussara Miller

Figurino: Bukke Reis

Música: Stella Splends in Monte – Grupo Ânima

 “CALÇADAS” – Maria Momensohn

Trabalho coreográfico baseado em dois poemas de Mario Quintana do livro Sapatos Floridos: Trata-se de um jogo com a idéia dos sapatos de Quintana. Uma brincadeira entre o sentido poético do estar em trânsito pelas calçadas que percorremos todos os dias e os calçados que vestem personagens num tempo de verão.

Direção e Concepção: Maria Mommensohn

Intérprete: Daniela Dini

Percussão: Daniela Aquino

 “MOMENTO” – Raymundo Costa

 Performance inspirada no conto “Momento”. “O homem parou, cheio de dedos, para procurar os fósforos nos bolsos. A insidiosa frescura do mar lhe mandou um pensamento suicida. E veio um riso límpido e irresistível – em i, em a, em o – do fundo de um pátio de infância. Um riso… Senão quando o homem achou os fósforos e a vida recomeçou. Apressada, implacável, urgente. A vida é cheia de pacotes…”

  Nas ações mais simples do cotidiano, os sentidos engatilham e deflagram memórias. Assim, sentimentos são despertados e provocam reações em nosso corpo. Caminhos são percorridos neste labirinto de sensações, até nos depararmos com a realidade presente.

Criador-Intérprete: Raymundo Costa

Trilha Sonora: Aguinaldo Bueno / Iluminação: Peter Rieterbeck / Sonoplastia: Sergio Paes

COOPERATIVA PAULISTA DE DANÇA

A Cooperativa Paulista de Dança – CPD surgiu da iniciativa de um grupo de 20 criadores-intérpretes tendo entre eles, em seu quadro diretivo, Carmen Gomide, Raymundo Costa, Camila Ganc, Zélia Monteiro, Carolini Lucci, Natália Parizotto, a fim de estimular a pesquisa, a criação e a produção em Dança no Estado de São Paulo, assim como a produção de espetáculos e sua circulação. Criada e sediada na cidade de São Paulo, seu perfil reuniu profissionais envolvidos na produção de Dança em diversas linhas de pesquisa.

A associação de criadores e profissionais independentes em uma cooperativa contribui para solidificar os processos acima, bem como possui o caráter de formação de público em Dança. O projeto responde à necessidade de construção de um núcleo que atenda às expectativas geradas pela complexidade da dança nos dias de hoje.

MARIO QUINTANA

Em 30 de julho de 2006, se ainda estivesse batendo pernas por sua querida Porto Alegre, Mario Quintana completaria 100 anos. Reconhecido e aclamado por crítica e público, o poeta começou a publicar seus escritos nos anos vinte, na imprensa gaúcha, reunindo-os posteriormente em livros a partir de 1940, com o lançamento de A Rua dos Cataventos.

Desde então, sua poesia singular marcará a cena literária do país. Segundo Tânia Franco Carvalhal, organizadora e uma das mais autorizadas especialistas em sua obra, “uma das características da expressão lírica de Mario Quintana é a melodia de seus versos. Sua poesia extrai das palavras as propriedades musicais e através do som e do ritmo constrói os significados”.

Para o leitor comum, a principal característica da poesia de Quintana será a simplicidade: Na eleição de temas e assuntos para sua oficina poética, seguindo as picadas abertas por Manoel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade, Quintana cantará e celebrará personagens da cena cotidiana, como o passarinho, o defunto, a senhora gorda, o cigarro, a cozinheira preta e a lata de sardinha – isso em um tempo em que a “boa poesia” deveria ser pomposa, solene e grave.

Segundo o crítico Armindo Trevisan, inspirado pelo poeta francês Charles Baudelaire, Quintana irá perseguir, em Sapato Florido, uma “nova poesia”, uma dicção próxima da “prosa-poética” do poeta de Flores do Mal, abdicando de recursos tradicionais como a metrificação e a rima, em benefício de uma maior oralidade e coloquialidade do texto poético.

Ficha Técnica

Concepção do projeto: Carmen Gomide

Criação e roteiro dos trabalhos: Todo o elenco

Mestre de Cerimônia: Ondina Castilho

Iluminador: Carlos Alberto de Faria

Vídeo: Canvas

Material Gráfico: Zuannon Comunicação Ltda

Produção: José Renato Fonseca de Almeida

Assistente de produção: Denise Malta

Assistente Técnico: Rafael Rocha Daude

O evento aconteceu no ano de 2006, com a assessoria de imprensa da Marra Comunicação.